A palavra é uma doideira, né? É quase que telepatia. Morro amanhã. Lerão, à posteriori, tudo que escrevi. Terão acesso a minha mente e aos pormenores que ela delineava. Tudo se desfaz, exceto a palavra fincada no papel. A palavra fincada no papel repousa quieta, ansiosa, vive à deriva. Não há compromisso algum com nada. Nem com o futuro. Ela apenas repousa quieta como um corpo nu exausto após o orgasmo. Enquanto repousa, o seu amor vai até a cozinha buscar um copo d’água. No caso da palavra, às vezes ninguém volta; fica a ver navios – ou melhor, às traças.